[devaneios] efêmero

é sempre assim,
te vejo e no segundo seguinte
já não está mais ali.
pensei que fosse ao menos conseguir

falar com você,
nem preciso te tocar,
só queria saber
se era real

ou se era só um devaneio,
mais um meio de tentar aliviar
de deixar acreditar
que o abismo não existe

que o caminho ainda inisiste
em estar lá,
se um dia você precisar,
ainda que impreciso for,
se voltar a sonhar,
se deixe navegar.

estarei

[reflexos] de santa

passei pelo curvelo a te procurar
largo das neves, você não estava lá
andei um pouco mais cheguei no guimarães
não te encontrei, fui até o dois irmãos

e no silvestre fui beber água da fonte
nas ruas desse bairro alegria não se esconde
se está triste, ela vem no bonde
o bar do mineiro estava lotado
o samba tava bom, era partido alto

refrão
pelas ruas de santa eu vou
cantar atrás do meu amor

com o meu violão debaixo do braço
não há quem me pare, só o cansaço
e mesmo que não que eu não te encontre mais
vou tentar seguir sozinho em paz

[reflexos] de repente

alegria que me invade de repente
parece até que vou te ver amanhã
coisa que não se explica, só se sente
queria tanto acordar e te ver do lado pela manhã

[reflexo] do fundo

meu amor, sei que errei
confesso e refaço outra vez
me entrego, me esqueço, me perco
me acho, lanço, e me trago, pra não te perder

me canso tão fácil
quando não é você
se não te encontro, eu subo no alto
e peço que desça desse palco
não precisa mais fingir, nem atuar
eu sei que já não quer mais

seus olhos ainda brilham
suas palavras se complicam
não indicam o fim
e então eu vou assim
sem reclamar, espero o tempo passar
penso que vai olhar pra atrás

[reflexos] sexta de lua

sexta feira de lua
todo mundo na rua
tomando uma cerveja
ao lado da igreja

esquecendo os pecados
lembrando do passado
num samba de raiz
o povo diz que é feliz

desce mais uma, essa é a saidera
promessa de paz pra semana inteira
assim ta bom demais, disse o samba-canção
e a morena atrás mexe com meu coração

corpo cansado, cabeça também
mas ninguém lembra, se 'do pé' está bém
dinheiro suado, sempre vai e vem

e se ainda tá cedo, saideira outra vez
e se ninguém tem pressa, pode vir mais dez
mas se a patroa não tá na boa, me vou
se não eu não volto na semana que vem

[devaneios] d'esquina

te vejo tão só
pelas esquinas caminhar
não fiz meu melhor
vou tentar, estar denovo no seu lar

no seu lençol seu jogo eu vou jogar
vai ser pior
se eu não puder te ver
nem observar, o que eu fiz ?
quero declarar
estarei feliz, se pudermos denovo recitar
aquelas palavras em um encontro de dois
a céu aberto ou entre quatro paredes
no sofá ou na rede
se você estiver, vou me jogar

[devaneios] de quintal

vou plantar rosas no teu quintal
o tempo vai passar,
você nem vai raparar
e quando um dia acordar, as flores estarão lá

não sei se vai colher
não sei o que vai pensar
mas espero que ao menos
seu olhos vibrem ao encontrar
seu olfato repare ao ali passar
e que os fatos ruins você venha a esquecer

pois ainda que o tempo passe
ainda que ele tente me dizer
toda vez que eu pensar em você
não haverá o que me cale
nem o que me faça me arrepender

[devaneios] de capote

as rodas pegando fogo
os bancos já estão todos sem o forro
as rodas a girar no alto
e o capô, o teto no asfalto

cheiro de gasolina e óleo no chão
pensei que fosse partir, mas acordei e ainda estava ali
com a sua mão na minha, forte eu apertei pra sentir
para acreditar, que mesmo depois do susto,
tudo ia voltar para o seu lugar

os bombeiros já chegaram, meu amor!
não se preocupe, eu vou curar a nossa dor
esse carro já não quero mais,
olha só onde tudo foi parar

eu só queria estar num lugar em paz
mas corri até colidir
ao desviar daquele rapaz
que queria sorrir,
e acabou estirando no chão
e pior, vinha um outro carro na contra mão
me fechou, fiquei sem direção
tentei freiar, em vão.

[devaneios] de praça

meus versos se tornam vazios
se a alegria insiste em deixar
as partes daquilo que não sei se um dia ainda vou lembrar

aos pedaços de tudo que já não me importo, recordo,
encontro atrás de uma porta qualquer
mas eu não quero entrar

pra dentro denovo daquele lugar
que eu nem sei se queria estar
então eu prefiro pairar, mesmo sem sorrir
sem saber eu opito, e por isso omito verdades
que não valem a pena transparecer

ainda que eu estivesse exatamente
onde queria estar
tenho certeza que ninguém se sente
como se estivesse chegado lá

[reflexos] deluá

quase sem querer
fui ao encontro seu
vi a lua sorrir,
e quando o dia amanheceu
eu ainda estava ali

mesmo sem muito bem saber
não quis pensar,
permiti-me ser
novamente o que ja fui,
em uma outra vez
vi tudo se repetir

não sei o barco navega
ou se num cais se apega
se prende, ou se entrega
ou se deixa partir

[devaneios] d'es traído

na rua das acácias
nos delírios e delícias
pelo vidro eu vi as gotas
irem de encontro ao reflexo
no momento em que converso
te convenço e te aqueço
esqueço como foi ruim
ver seus recados na parede em carmim

mas
sobre você dentro de mim
não sei até onde vai
se é profundo, se é leve,
se voa, ou cai,
como as flores do colar que eu te dei
ou se permanece,
como aquela lembrança boa que guardei

[reflexos] e reflexões

quero não saber
peço não te ver
se não for
com os olhos que eu deixei
em ti, amor

penso em não querer
quero sem saber
ou sei, sem estar lá
no seu particular
no seu bem amar

meu corpo estremece
lembrança padece pra eu não sofrer
no instante em que penso, poderia estar
denovo na sua sala,
vendo jardim de alah
sendo eu sem estar lá
no seu coração
só na sua cabeça como uma canção
que você gostou de ouvir
e fez-se sentir novamente feliz
ah eu fiz,
faria tudo denovo,
talvez até mesmo melhor
talvez não tão só
estaria contigo, as janelas se abririam pro sol entrar
e eu estaria lá a regar suas flores de almodóvar

não me venha com violência
se vier, me vou,
com meu violão
ainda que sua ausencia
perdure no meu pulmão
não poderei mais respirar
nem amar, vou perder o ar
a vontade de te escutar
suas canções ecoando no meu coração
suas batidas marcando o tempo
e seus cabelos ao vento

[devaneios] d'escuro

vem, me dê uma dança
me dê um abraço
vê se nâo se cansa
segura o meu braço
eu te levanto
caso o cansaço
venha te puxar pra baixo
dos lençois, quero estar
com você quando a lua se deixar ser
quando o sol, cair de maduro
vai ficar escuro
mas vou ter você

[reflexos] de dentro

o que me dói mais é não saber
e por mais que eu possa querer
será que você vai sentir ?
se permitir, ao menos tentar ?
ao menos não se policiar
deixar o coração respirar
deixar a alma chorar
pra ser melhor e mais
pro pior ficar pra trás

[devaneios] precipício

as vezes me antecipo
me precipito
no precípico fico
mas fazer o que, se o coração palpita ?
e fazer o que, quando mesmo em calma
o juiz apita ?
fim de jogo, ou falta ?

[devaneio] deram

éramos dois querendo ser um
éramos um que não se encontrava
um encontro onde não se ancorava
era um porto em que não se prendia
nem se aprendia, não se dividia
mas se amarra, se amava.

[reflexos] depós

frases me faltam
palavras que acalmam
quando tudo parece direito
vem aquele velho defeito
de querer mais,
de não ser tão
e de ficar sem cais

[devaneios] clubedamadrugada

sempre naquele mesmo horário
eu tornava a encontrar
aquela em pessoa
naquele mesmo lugar

quase que um ritual
passou a ser vital
quando não a via
me sentia mal

pergunto-te sobre a vida
ela diz que está tudo normal
nada demais
pergunto-te sobre a paz
que me falta quando desconcentro
que desconcerto algo bom
quando o sono não é tão
forte pra me derrubar

[devaneios] preciso

o que é impreciso
muito preciso
mas não sei ao certo a medida
da vontade
dá saudade
dá insônia
quase coma
mas como eu quero
quero todos os dias
o imprevesível
é adorável
quando nada mais parece impossível
tudo se torna agradável

[reflexos] de boa noite

meu bem me vou
a hora voa e a gente aqui
a toa, a sorrir
não que eu não queria mais ficar
preciso dormir
pra amanhã refazer o meu lar
vou estar lá
bem cedo, com café ou chá
minha certeza vai habitar
minha cabeça vai agradecer
ao descanso dessa noite
que passei sem você

[reflexos] de onde ?

o bloco dos laranjas já passou

as ruas, encontram-se limpas

as gurias se perdem em dias 

chuvosos de alegria que reinou

naqueles dias, sem penares

sem pensares e sem mal me quer

sem ligar, sem preocupar

sobre o aluguel

sem longas, sem documentários

só video clipes, partes daquilo

que sintetizam o feito 

fez do trio

um bouquet, de flores novas

que vão nascer

nas águas de março

das pias novas

e louças velhas

que a vó deixou

feito herança

como a casa, com telhas

como a crença

de quem não nos abandonou

[reflexos] de carnabus

do richuelo não vi riachos,
mas vi elos
eles e verbos de ligação
sujeitos indeterminados
uniformizados de carnaval
serpentina para espantar
semente do mal, cerveja, suor e folia
eu queria essa alegria todo dia

laranjeiras botou fogo em mim
passeando em copacabana
vi a banda tocar
passei pelo Leme,
e nem me lembrei,
do amor do ano passado,
mas se ela passa, rindo ao meu lado
coração vai festejar
só de alegria vai pulsar,
se entregar e sorrir

Santa Clara clareou minhas idéias,
como uma musa eu vi passar
e com licença ela me deu
um novo alvará
e agora vem o tunel velho
para um bairro novo que vai luzir
pra garota de Ipanema
que nunca vai deixar de ser feliz

quase no leblon, fiz Ipanema meu lar
São Conrado passei correndo,
não vi nada de fashion,
mas também não vi nada de mal

fez-se mar, no alto do rio
de fevereiro e carnaval
cidade pára pra festejar
o novo ano que ainda vai começar

[reflexos] de intrépida

hoje foi diferente
o tecido que antes virava camisa
me virou do avesso
de cabeça pra baixo
vi gota de sangue no pé
mas não vi ferida
cansei braços fracos
fizeram-se fortes
fizeram-se enormes
pra ir no alto,
me atirei, saltei no ar
de pés amarrados
me amarrei em me jogar
ainda que preso no pano verde
tecido novo junto ao teto
colchão no chão caso eu venha a fraquejar
breu na mão pra perto do céu poder chegar
pra não escorregar
pra não desviar
e menos cansar

no início foi duro
no final fiz casulo
suave, descansei
mas cansado ainda,
me apaixonei e quero voltar lá
feito macaco em trama de algodão me segurar
me desdobrar, chave de perna
giros em alta rotação
coração pulsante
céu no pé
calo na mão
coração não se calou
mente sim
esqueci os problemas e só pensei em poemas
em cores, nada de dores
até o músculo deu folga no calor
e a dor quase não senti

[reflexos] d'vida

pode até parecer bobagem
mas meu sorriso se vai na paisagem
quando não te vejo, procuro miragem
quando não te quero, procuro ninguém
quando não te acho, encontro alguém
que me lembra você
mas quando percebo o que eu fiz
quando o acordo e não estou feliz
te detesto por quase meio segundo
me empresto e me jogo no escuro
me detesto e me sinto inseguro
mas insisto e encontro um abrigo
se desisto é porque me falta
é porque me falha.

[devaneios] de explosão

se eu fosse mais gordo explodiria
de alegria
ao te ver
ao comer
seu coração em fatias
minha missão em seus dias
sua emoção
em canções frias
queria me teletransportar
pra um lugar
perto de você
queia estar em maricá
ou numa ilha perdida
Aruba ou Catumbi
nao importa se é aqui ou ali
eu vou te amar
não importa se a porta vai fechar
a sístole vai abrir
as válvulas
se, não
vou explodir
de amor

[devaneios] de sem horas

muitas horas nessas almas
muitas almas nessas cores
poucas dores nessas senhoras
nossa senhora nos desdobre
das curvas agudas e sobras escuras
dos dias de chuva pros dias de sol
no final a matéria vira pó
o amor, energia que fala por si só

[reflexos] de cera e mar

fico na dúvida
brilhando reflito
feito cera pensando
será ? que vai um dia chegar
no qual a gente vai sentar,
descansar, bocejar
e nada mais almeijar ?
seria bom o bastante
olharíamos fotos nas estantes
sorriríamos lembrando
chorando e vivendo
novas lembranças
fotos cem cores
cores sem vida ?
não importa
a água do mar lavou
e sarou a ferida.

[reflexos] de pai

seu hobbie é reclamar
procura sem algo pra dizer
quando já não tem mais o que comprar
e já assitiu todos os filmes da tv
me cansei já nem sei
a cisma da vez
não se cansa de pensar
ao invés de relaxar
prefere procurar
palavras novas pra enriquecer
seu vocabulário, dicionário
ele vai ler
todos os dias antes de dormir
feito a biblía pra quem
quer crescer, feito aurélio
pai dos burros, mãe dos cegos
sorte dos surdos que
não podem ouvir
esse maluco, não tem o que dizer
por isso fala tanto
pra ninguém perceber